PROGRAMA DE DP - LÍNGUA PORTUGUESA
1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
Orientações: aluno em DP em Língua Portuguesa referente a 1ª série do Ensino Médio será avaliado em trabalhos semestrais ( 1º semestre valendo 5,0 e o 2º valendo 5,0 – dentre os quais serão obtidos uma média) e uma prova ( valendo 5,0) com base nos conteúdos das atividades propostas a cada semestre.
- Data da Prova: 28 de setembro de 2019, às 09h00 da manhã.
- Os alunos matriculados em 2019 deverão entregar os trabalhos do 1º semestre, nos dias 17,18 e 19 de junho.
- Os ex-alunos deverão entregar os trabalhos do 1º e 2º semestre no dia da prova, 28 de setembro de 2019.
Língua Portuguesa – 1ª série
1º Semestre
ATENÇÃO: Para realizar os exercícios proposto será necessário o livro didático, que deverá ser solicitado na coordenação pedagógica.
ATENÇÃO: Para realizar os exercícios proposto será necessário o livro didático, que deverá ser solicitado na coordenação pedagógica.
1-
LITERATURA
TROVADORISMO
HUMANISMO E CLASSICISMO
Após assistir aos vídeos e fazer a leitura dos
textos abaixo, elabore um texto sobre a influência do período histórico na arte
literária de cada Escola (Trovadorismo, Humanismo e Classicismo), as mudanças
que ocorreram nas produções literárias de cada uma delas e a relação existente
entre as obras de Gil Vicente e Luís Vaz de Camões com a arte de grandes
artistas contemporâneos
TROVADORISMO
HUMANISMO
CLASSICISMO
2- ORTOGRAFIA
Pesquise sobre as últimas mudanças ocorridas na
ortografia de nosso país. Conte sobre o que facilitou a escrita e o que
dificultou a mesma, em sua opinião. Para isso você deverá usar 5 regras para
justificar seu parecer. O texto deverá ter entre 20 e 30 linhas; obedecer à
regra de paragrafação e estética.
REDAÇÃO
Vídeo
sugestivo para produção do texto sobre Literatura.
PARAGRAFAÇÃO
Vídeo
sugestivo para a produção de um bom texto.
Cada
texto deverá, obrigatoriamente:
* Conter cabeçalho e enunciado;
*ser manuscritos a caneta esferográfica azul ou
preta;
*ser escrito com letra cursiva e legível;
*obedecer às regras de paragrafação.
*Limpeza (sem rasuras), clareza e objetividade
são imprescindíveis.
*Os vídeos e textos acima são apenas sugestões,
o que não impedem consultas a outras fontes.
2º Semestre
CONTEÚDO
DP – 2019
Cada texto deverá, obrigatoriamente:
* Conter cabeçalho e enunciado;
*ser manuscritos a caneta esferográfica azul ou
preta;
*ser escrito com letra cursiva e legível;
*obedecer às regras de paragrafação.
*Limpeza (sem rasuras), clareza e objetividade são
imprescindíveis.
*Os vídeos e textos para leitura são apenas
sugestões, o que não impedem consultas a outras fontes.
* Cópias da internet sem a devida citação
acarretará na anulação da parte copiada. Os textos produzidos devem ser AUTÊNTICOS.
·
Lusofonia e história da língua portuguesa.
ü
Explique,
em um breve texto, o surgimento da língua portuguesa e os países que a utilizam
como língua oficial.
·
Dicotomia – língua/linguagem.
ü
Explique,
de maneira breve, os elementos dessa dicotomia. Para tanto, leia as páginas do
livro didático referentes às Reflexões sobre
a língua (p. 23-26). Após
essa etapa, realize os exercícios da p.
27.
·
Variedade linguística.
ü
Explique
em que consiste as variedades linguísticas e quais são seus tipos – faça um
breve comentário sobre eles. Para tanto, leia as páginas do livro didático
referentes às Reflexões sobre a língua (p. 50-53). Após essa etapa,
realize os exercícios das p. 52-55 –
até exercício 3.
·
Os elementos da comunicação – as funções
da linguagem.
ü
Aponte
quais são os elementos da comunicação e em que consiste as funções da linguagem
– faça um breve comentário sobre seus tipos. Para tanto, leia as páginas do
livro didático referentes às Reflexões
sobre a língua (p. 72-76).
Após essa etapa, realize os exercícios das p.
77-79.
·
Diferença entre denotação e conotação.
ü
Explique,
de maneira breve, o que é denotação e conotação. Dê três exemplos para cada
tópico.
·
Figuras de linguagem.
ü
Explique,
brevemente, o que são as figuras de linguagem. Aponte também aquelas citadas
pelo livro e o seu respectivo significado. Para tanto, leia as páginas do livro
didático referentes às Reflexões sobre a
língua (p. 107-113). Após
essa etapa, realize os exercícios das p.
114-115.
·
Polissemia/Ambiguidade;
sinonímia/paráfrase.
ü
Explique
em que consiste os termos acima. Para tanto, leia as páginas do livro didático
referentes às Reflexões sobre a língua (p. 135-139). Após essa etapa,
realize os exercícios das p. 137/139.
·
Fonologia: encontros consonantais e
vocálicos; dígrafos.
ü
Explique
o que são encontros consonantais, vocálicos e dígrafos. Dê três exemplos para
cada tópico. Para tanto, leia as páginas do livro didático referentes às Reflexões sobre a língua (p. 186-189). Após essa etapa,
realize os exercícios das p. 189-190.
Referências bibliográficas
·
CEREJA,
William Roberto; VIANNA, Carolina Assis Dias; CODENHOTO, Christiane Damien. Português contemporâneo: diálogo, reflexão
e uso. Vol. 1. 1. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
·
BECHARA,
Evanildo. Moderna gramática brasileira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
·
CASTILHO,
Ataliba. Gramática do português
brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
·
ILARI,
Rodolfo; BASSO, Renato. O português da
gente: a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.
·
MOISES,
Massaud. A literatura portuguesa.
São Paulo: Cultrix, 2009.
CONTEÚDO
DP – 2º ANO 2019 - LÍNGUA PORTUGUESA
Orientações: aluno em DP em Língua Portuguesa referente a 2ª série do Ensino Médio será avaliado em trabalhos semestrais ( 1º semestre valendo 5,0 e o 2º valendo 5,0 – dentre os quais serão obtidos uma média) e uma prova ( valendo 5,0) com base nos conteúdos das atividades propostas a cada semestre.
- Data da Prova: 28 de setembro de 2019, às 09h00 da manhã.
- Os alunos matriculados em 2019 deverão entregar os trabalhos do 1º semestre, nos dias 17,18 e 19 de junho.
- Os ex-alunos deverão entregar os trabalhos do 1º e 2º semestre no dia da prova, 28 de setembro de 2019.
1º Semestre
ATENÇÃO: Para realizar os exercícios proposto será necessário o
livro didático, que deverá ser solicitado na coordenação pedagógica.
As pesquisas e exercícios devem ser elaborados em folha de almaço,
os exercícios devem conter os enunciados. Usar caneta esferográfica azul ou
preta e letra legível.
Não esquecer de colocar na capa nome completo, série e número atual,
colocar o nome da matéria em DP e a série.
PESQUISA DE LITERATURA – apresentar
contexto histórico-social da época, bem como suas principais características,
além de um resumo das principais obras do movimento, descritas entre
parênteses.
·
Classicismo (Os
lusíadas, de Luís de Camões)
·
Quinhentismo
(a carta, de Pero Vaz de Caminha);
Agora
que você já descobriu como estava Portugal nesse período, leia os textos das
páginas 105 e 106 – Entre saberes – e responda às questões ali propostas.
A fim de
complementar esse conteúdo, veja também estes vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=RJLJfloc0jE
·
Barroco – Gregório
de Matos e Padre Antônio
Vieira.
Faça uma pesquisa sobre o Barroco e suas manifestações literárias na europa e no Brasil.
Pesquise a biografia e principais obras de Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.
Faça uma pesquisa sobre o Barroco e suas manifestações literárias na europa e no Brasil.
Pesquise a biografia e principais obras de Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.
A
fim de complementar esse conteúdo, veja também estes vídeos:
PESQISA DE GRAMÁTICA –
apresentar os conceitos das classes gramaticais apontadas abaixo e os
exercícios solicitados.
·
SUBSTANTIVO
Leia o
box Classificação dos substantivos
(p.28) e depois assista ao vídeo a seguir:
Exercícios
(a partir do 1b até o 6) – p.28-29.
Os
substantivos flexionam-se em gênero, número e grau, mas você sabe o que
significa isso?
Gênero (masculino e feminino)
Exercícios
(p.30-31)
Número (singular e plural)
Exercícios
(p.32-33)
·
ADJETIVO
Flexão
dos adjetivos – realize a leitura da p. 57 e assista aos vídeos a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=dRePqnwJCXU
Exercícios
– (p. 58 e 59).
2ºSEMESTRE
Língua portuguesa – 2ª série
PESQUISA DE LITERATURA – apresentar
contexto histórico-social da época, bem como suas principais características,
além de um resumo das principais obras do movimento, descritas entre
parênteses.
· Romantismo no
Brasil -: (a poesia de Gonçalves Dias e de Álvares de Azevedo);
· A prosa
romântica no Brasil (José de Alencar
e Manuel Antônio de Almeida);
Para auxiliá-lo(a),
assista ao seguintes vídeos (copie e cole o link em seu navegador):
PESQUISA DE GRAMÁTICA – apresentar os
conceitos das classes gramaticais apontadas abaixo e os exercícios solicitados(copiar e responder)
· PRONOMES PESSOAIS E
POSSESSIVOS
Para auxiliá-lo (a),
assista aos seguintes vídeos (copie e cole o link em seu navegador):
Exercícios
a- Em quais contextos
é empregada a expressão “Minha Nossa”?
b- Levante hipóteses: Qual
é a origem dessa expressão?
c- Na piada, há uma
oposição de dois pronomes possessivos. Explique essa afirmação.
d- Com base na
resposta do item c, conclua: Por que a frase seria a “mais bipolar do mundo”?
2- Leia o enunciado a
seguir, extraído de um anúncio de um curso de manicure e cabeleireiro.
“Aprenda a cuidar de suas unhas e de seus
cabelos”.
a.
Levante hipóteses: A quem se referem os
pronomes suas e seus nesse contexto?
b.
Complete as frases com os pronomes possessivos
adequados:
·
Marta cuida bem das ------unhas.
·
Marta cuida bem das unhas -------.
·
Marta cuida bem dos ------- cabelos.
·
Marta cuida bem dos cabelos --------.
·
João cuida bem das ------- unhas.
·
João cuida bem das unhas --------.
·
Marta e João cuidam bem das -------unhas.
·
Marta e João cuidam bem das unhas --------.
c. Entre as formas
pronominais que completam as frases do item anterior, quais você utiliza mais
frequentemente no seu cotidiano?
d. Descreva morfologicamente
as formas pronominais que completam as frases do item b, isto é, indique o gênero , a pessoa e o número dessas formas.
e. Observe os termos
com os quais o pronome possessivo concorda em cada umas das frases do item b e conclua: As duas formas pronominais
seguem a mesma regra de concordância? Justifique sua resposta.
Leia, a seguir, uma
carta do escritor romântico José de Alencar e responda às questões de 3 a 7.
Carta de José de Alencar
Tijuca [Rio de
Janeiro], 18 de fevereiro de 1868.
Ilmo Sr. Machado de Assis.
Recebi ontem a visita
de um poeta. O Rio de Janeiro não o conhece ainda; muito breve o há de conhecer
o Brasil. Bem entendido, falo do Brasil que sente; do coração e não do resto. O
Sr. Castro Alves é hóspede desta grande cidade, alguns dias apenas. Vai a S.
Paulo concluir o curso que encetou em Olinda. Nasceu na Bahia, a pátria de tão
belos talentos; a Atenas brasileira que não cansa de produzir estadistas,
oradores, poetas e guerreiros. - Podia acrescentar que é filho de um médico
ilustre. Mas para quê? A genealogia dos poetas começa com o seu primeiro poema.
E que pergaminhos valem estes selados por Deus?
O Sr. Castro Alves
trouxe-me uma carta do Dr. Fernandes da Cunha, um dos pontífices da tribuna
brasileira. Digo pontífice, porque nos caracteres dessa têmpera o talento é uma
religião, a palavra um sacerdócio. Que júbilo para mim! Receber Cícero que vinha
apresentar Horácio, a eloquência conduzindo pela mão a poesia, uma glória
esplêndida mostrando no horizonte da pátria a irradiação de uma límpida aurora!
- Mas também quanto, nesse instante, deplorei minha pobreza, que não permitia
dar a tão caros hóspedes régio agasalho. Carecia de ser Hugo ou Lamartine, os
poetas-oradores, para preparar esse banquete da inteligência. Se, ao menos,
tivesse nesse momento junto de mim a plêiade rica de jovens escritores, à qual
pertencem o senhor, o Dr. Pinheiro Guimarães, Bocaiúva, Múzio, Joaquim Serra,
Varela, Rozendo Moniz, e tantos outros!... Entre estes, por que não lembrarei o
nome de Leonel de Alencar, a quem o destino fez ave de arribação na terra
natal? Em literatura não há suspeições: todos nós, que nascemos em seu regaço,
não somos da mesma família?
Mas a todos o vento
da contrariedade os tem desfolhado por aí, como flores de uma breve primavera.
Um fez da pena espada para defender a pátria. Alguns têm as asas crestadas pela
indiferença; outros, como douradas borboletas, presas da teia d'aranha, se
debatem contra a realidade de uma profissão que lhes tolhe os voos
Felizmente estava eu
na Tijuca. O senhor conhece esta montanha encantadora. A natureza a colocou a
duas léguas da Corte, como um ninho para as almas cansadas de pousar no chão.
Aqui tudo é puro e são. O corpo banha-se em águas cristalinas, como o espírito
na limpidez deste céu azul. Respira-se à larga, não somente os ares finos que
vigoram o sopro da vida, porém aquele hálito celeste do Criador, que bafejou o
mundo recém-nascido. Só nos ermos em que não caíram ainda as fezes da
civilização, a terra conserva essa divindade do berço.
Elevando-se a estas
eminências, o homem aproxima-se de Deus. A Tijuca é um escabelo entre o pântano
e a nuvem, entre a terra e o céu. O coração que sobe por este genuflexório,
para se prostrar aos pés do Onipotente, conta três degraus; em cada um deles,
uma contrição. No alto da Boa Vista, quando se descortina longe, serpejando
pela várzea, a grande cidade réptil, onde as paixões pululam, a alma que se
havia atrofiado no foco do materialismo, sente-se homem. Embaixo era uma
ambição; em cima contemplação. - Transposto esse primeiro estádio, além, para
as bandas da Gávea, há um lugar que chamam Vista Chinesa. Este nome lembra-lhe
naturalmente um sonho oriental, pintado em papel de arroz. É uma tela sublime,
uma decoração magnífica deste inimitável cenário fluminense. Dir-se-ia que Deus
entregou a algum de seus arcanjos o pincel de Apeles, e mandou-lhe encher
aquele pano de horizonte. Então o homem sente-se religioso. - Finalmente,
chega-se ao Pico da Tijuca, o ponto culminante da serra, que fica do lado
oposto. Daí os olhos deslumbrados veem a terra como uma vasta ilha a
submergir-se entre dois oceanos, o oceano do mar e o oceano do éter. Parece que
estes dois infinitos, o abismo e o céu, abrem-se para absorver um ao outro. E
no meio dessas imensidades, um átomo, mas um átomo-rei, de tanta magnitude. Aí
o ímpio é cristão e adora o Deus verdadeiro.
Quando a alma desce destas alturas e
volve ao pá da civilização, leva consigo uns pensamentos sublimes, que do mais
baixo remontam à sua nascença, pela mesma lei que faz subir ao nível primitivo
a água derivada do topo da terra. - Nestas paragens não podia meu hóspede
sofrer jejum de poesia. Recebi-o dignamente. Disse à natureza que pusesse a
mesa, e enchesse as ânforas das cascatas de linfa mais deliciosa que o falerno
do velho Horácio.
A Tijuca esmerou-se
na hospitalidade. Ela sabia que o jovem escritor vinha do Norte, onde a
natureza tropical se espaneja em lagos de luz diáfana, e, orvalhada de
esplendores, abandona-se lasciva como uma odalisca às carícias do poeta. -
Então a natureza fluminense, que também, quando quer, tem daquelas impudências
celestes, fez-se casta e vendou-se com as alvas roupagens de nuvens. A chuva a
borrifou de aljôfares; as névoas resvalavam pelas encostas como as fímbrias da
branca túnica roçagante de uma virgem cristã. Foi assim, a sorrir entre os
nítidos véus, com um recato de donzela, que a Tijuca recebeu nosso poeta. O Sr.
Castro Alves lembrava-se, como o senhor e alguns poucos amigos, de uma antiguidade
de minha vida; que eu outrora escrevera para o teatro. Avaliando sobre medida
minha experiência neste ramo difícil da literatura, desejou ler-me um drama,
primícia de seu talento. Essa produção já passou pelas provas públicas em cena
competente para julgá-la. A Bahia aplaudiu com júbilos de mãe a ascensão da
nova estrela de seu firmamento. Depois de tão brilhante manifestação, duvidar
de si, não é modéstia unicamente, é respeito à santidade de sua missão de
poeta. Gonzaga é o título do drama que lemos em breves horas. O assunto,
colhido na tentativa revolucionária de Minas, grande manancial de poesia
histórica ainda tão pouco explorado, foi enriquecido pelo autor com episódios
de vivo interesse. O Sr. Castro Alves é um discípulo de Vítor Hugo, na
arquitetura do drama, como no colorido da ideia. O poema pertence à mesma
escola do ideal; o estilo tem os mesmos toques brilhantes. Imitar Vítor Hugo só
é dado às inteligências de primor. O Ticiano da literatura possui uma palheta
que em mão de colorista medíocre mal produz borrões. Os moldes ousados de sua
frase são como os de Benvenuto Cellini; se o metal não for de superior
afinação, em vez de estátuas saem pastichos. Não obstante, sob essa imitação de
um modelo sublime desponta no drama a inspiração original, que mais tarde há de
formar a individualidade literária do autor. Palpita em sua obra o poderoso
sentimento da nacionalidade, essa alma da pátria, que faz os grandes poetas,
como os grandes cidadãos. Não se admire de assimilar eu o cidadão e o poeta,
duas entidades que no espírito de muitos andam inteiramente desencontradas. O
cidadão é o poeta do direito e da justiça; o poeta é o cidadão do belo e da
arte. Há no drama Gonzaga exuberância de poesia. Mas deste defeito a culpa não
foi do escritor; foi da idade. Que poeta aos vinte anos não tem essa
prodigalidade soberba de sua imaginação, que se derrama sobre a natureza e a
inunda? A mocidade é uma sublime impaciência. Diante dela a vida se dilata, e
parece-lhe que não tem para vivê-la mais que um instante. Põe os lábios na taça
da vida, cheia a transbordar de amor, de poesia, de glória, e quisera
estancá-la de um sorvo. A sobriedade vem com os anos; é virtude do talento viril.
Mais entrado na vida, o homem aprende a poupar sua alma. Um dia, quando o Sr.
Castro Alves reler o Gonzaga, estou convencido que ele há de achar um drama
esboçado, em cada personagem desse drama. Olhos severos talvez enxerguem na
obra pequenos senões. Maria, achando em si forças para enganar o governador em
um transe de suprema angústia, parecerá a alguns menos amante, menos mulher, do
que devera. A ação, dirigida uma ou outra vez pelo acidente material, antes do
que pela revolução íntima do coração, não terá na opinião dos realistas, a
naturalidade moderna. - Mas são esses defeitos da obra, ou do espírito em que
ela se reflete? Muitas vezes já não surpreendeu seu pensamento a fazer a
crítica de uma flor, de uma estrela, de uma aurora? Se o deixasse, creia que
ele se lançaria a corrigir o trabalho do supremo artista. Não somos homens
debalde: Deus nos deu uma alma, uma individualidade.
Depois da leitura do
seu drama, o Sr. Castro Alves recitou-me algumas poesias. "A Cascata de
Paulo Afonso", "As Duas Ilhas" e "A Visão dos Mortos" não cedem às
excelências da língua portuguesa neste gênero. Ouça-as o senhor, que sabe o segredo
desse metro natural, dessa rima suave e opulenta. Nesta capital da Civilização
brasileira, que o é também de nossa indiferença, pouco apreço tem o verdadeiro
mérito quando se apresenta modestamente. Contudo, deixar que passasse por aqui
ignorado e despercebido o jovem poeta baiano, fora mais que uma descortesia.
Não lhe parece? Já um poeta o saudou pela imprensa; porém, não basta a
saudação; é preciso abrir-lhe o teatro, o jornalismo, a sociedade, para que a
flor desse talento cheio de seiva se expanda nas auras da publicidade.
Lembrei-me do senhor.
Em nenhum concorrem os mesmos títulos. Para apresentar ao público fluminense o
poeta baiano, é necessário não só ter foro de cidade na imprensa da Corte, como
haver nascido neste belo vale do Guanabara, que ainda espera um cantor. Seu
melhor título, porém, é outro. O senhor foi o único de nossos modernos
escritores, que se dedicou sinceramente à cultura dessa difícil ciência que se
chama crítica. Uma porção de talento que recebeu da natureza, em vez de aproveitá-lo
em criações próprias, teve a abnegação de aplicá-lo a formar o gosto e
desenvolver a literatura pátria. Do senhor, pois, do primeiro crítico
brasileiro, confio a brilhante vocação literária, que se revelou com tanto
vigor. Seja o Virgílio do jovem Dante, conduza-o pelos ínvios caminhos por onde
se vai à decepção, à indiferença e finalmente à glória, que são os três
círculos máximos da divina comédia do talento.
publicada no Correio Mercantil, Rio de
Janeiro, 22 de fevereiro de 1868
3. Com base no texto,
responda:
a. A quem José de
Alencar escreveu?
b. Qual a principal
finalidade da carta?
c. Como o autor
justifica a escolha de tal destinatário?
4. Considerando as
formas de tratamento presentes na carta, responda:
a. Qual forma Alencar
utiliza para se referir a seu interlocutor?
b. Qual ele utiliza
para se referir a seu hóspede?
c. Percebe-se, na
carta, que a escolha da forma de tratamento empregada em referência ao hóspede
do escritor não está relacionada a idade. Justifique essa afirmação.
d. Levante hipóteses:
Qual é a razão do uso, na carta, dessa forma de tratamento?
5. Leia os trechos a
seguir, extraídos da carta.
“O Rio de Janeiro não o conhece ainda”
“desejou ler-me um drama”
“a ascensão da nova estrela de seu firmamento”
“duvidar de si, não é modéstia unicamente”
“não tem para vive-la mais que um instante”
“Não lhe parece?”
“é preciso abrir-lhe o teatro”
·
Entre os trechos, há dois nos quais os pronomes retomam diretamente
palavras do texto sem se referir às três pessoas do discurso. Identifique quais
são esses trechos e quais são as palavras retomadas.
6- Nos demais trechos, os pronomes se
referem às pessoas do discurso, que são, na carta, seu autor (1ª pessoa), o
destinatário (2ª pessoa) e o assunto (3ª pessoa).
a. Faça a
correspondência entre as pessoas do discurso e as pessoas envolvidas na carta.
b. Identifique a quem
corresponde cada um dos cinco pronomes destacados.
c. O pronome lhe
não se refere à mesma pessoa nas duas ocorrências. Explique essa afirmação.
7- Entre as ocorrências de pronomes
no texto, alguma não é mais utilizada ou é pouco utilizada atualmente na fala?
Em casa de resposta afirmativa, aponte qual (is) e identifique a (s) forma (s)
que a (s) substituiu (iram).
Língua Portuguesa – 3ª série
O conteúdo de pesquisa e os exercícios deverão ser
manuscritos, em folha de almaço e, se possível, encadernado. A capa digitada do
trabalho deverá seguir as normas da ABNT.
1. A geração de 30: Graciliano Ramos
2. O contexto de produção e recepção da
produção literária da geração de 30.
3. Ler o I- capítulo de Vidas Secas, de
Graciliano Ramos http://www.metavest.com.br/livros/Vidas-Secas.pdf e responder o roteiro de questões abaixo:
Roteiro:
1- No primeiro capítulo de Vidas
secas, é narrado o deslocamento da família de Fabiano pelas terras do
sertão nordestino.
a- Como é caracterizada a paisagem pela
qual a família caminha?
b- Nessa obra, Graciliano Ramos denuncia
a situação miserável dos retirantes. Que fato narrado no texto evidencia essa
situação de absoluta miséria?
c- O romance de 30 é também chamado de
neorrealista e de neonaturalista pela crítica literária. Considerando o
primeiro parágrafo do texto, responda: O narrador de Vidas Secas mantém a
imparcialidade típica da prosa realista e naturalista? Justifique sua resposta
com elementos desse parágrafo.
2- Os diálogos são raros no romance.
a- No momento em que o menino mais velho
começa a chorar e se senta no chão, exausto, quais são as primeiras reações e
qual é o desejo de Fabiano diante daquela situação? O que essas reações revelam
a respeito dessa personagem?
b- E sinhá Vitória, como reage nessa
circunstância? Como se comunica com Fabiano?
c- O que os sons emitidos pelo papagaio
revelam sobre a comunicação na família?
d- Levante hipóteses: Que efeito de
sentido essa escassez de diálogos constrói na narrativa?
3- Ao contrário dos diálogos, a
interioridade das personagens é amplamente explorada ao longo do romance.
a- No texto em estudo, Fabiano e sinhá
Vitória revelam ter consciência crítica a respeito da situação de desterro e de
miséria em que estavam? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b- Releia este trecho:
“Baleia [...]
enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares,
estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se
equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas logo a
recordação chegava.”
Em determinadas
circunstâncias, a cachorra Baleia é humanizada, e os retirantes, ao contrário,
são animalizados. Identifique esse traço da obra no trecho acima.
c- Nesse contexto, que sentido a palavra
chegava
em “a
recordação chegava”, adquire?
4-
Releia
este trecho:
“Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível
abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinhá Vitória,
pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o
peito, moles, finos como cambitos.”
a-
Os
diminutivos são raros em Vidas secas.
No contexto da narrativa, que efeito o uso dos diminutivos, no trecho, produz?
b-
O
narrador onisciente é aquele que, além de se apresentar em 3ª pessoa, conhece
tudo sobre o que é narrado, inclusive o mundo interior das personagens. Com
base no trecho e no restante do texto lido, responda: Com que finalidade Graciliano Ramos adotou a perspectiva do
narrador onisciente em Vidas secas?
c-
O
discurso indireto livre foi amplamente utilizado em Vidas secas. Essa técnica
narrativa consiste na fusão da fala do narrador à fala ou ao pensamento de uma
personagem. Identifique no trecho a frase em que há a presença do discurso
indireto livre e levante hipóteses: Que efeito o emprego dessa técnica produz
na narrativa?
5-
Além
do discurso indireto livre, o romance utiliza outros recursos formais.
a- Um
desses recursos é a não linearidade, ou seja, os fatos narrados não seguem uma
ordem cronológica. Que episódio narrado no texto em estudo exemplifica esse
traço formal da obra?
b-
Os
filhos de Fabiano e de sinhá Vitória não têm nomes. Levante hipóteses: Que
efeito de sentido esse recurso constrói no texto?
6-
O
romance de 30 retomou a concepção determinista presente na prosa naturalista,
explorando a relação entre o homem e o meio natural. No texto em estudo, como
se dá essa relação? Nesse contexto, que sentido o título da obra adquire?
Assistir aos
vídeos e estudar o conteúdo para a Avaliação do dia 28/09/19.
Modernismo
–
Parte II
- Língua e linguagem
Pesquisa sobre:
· Progressão referencial e Operadores Argumenta
· O que é referenciação?
· Como se realiza a progressão referencial?
· O que são e quais são os operadores argumentativos?
Observação: colocar a referência
bibliográfica.
c. Exemplos de estruturação sintática típica da fala do homem sertanejo.
2º
Semestre – Parte I – Literatura
O conteúdo de pesquisa e os exercícios deverão ser
manuscritos, em folha de papel almaço e, se possível, encadernado. A capa
digitada do trabalho deverá seguir as normas da ANBT.
1. Modernismo:
a Geração de 45 (contexto histórico, características e principais autores).
Resumo
da vida e principais obras de Guimarães Rosa. Logo após, fazer um relato da
visão geral da obra Sagarana.
2. FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, o episódio final do conto “A
hora e vez de Augusto Matraga”, momento em que o protagonista é recebido pelo
jagunço Joãozinho Bem-Bem e seu bando no arraial do Rala-Coco.
[...]
Fitava Nhô
Augusto com olhos alegres, e tinha no rosto um ar paternal. Mas, na testa,
havia o resto de uma ruga.
— Está vendo,
mano velho? Quem é que não se encontra, neste mundo?... Fico prazido, por lhe
ver. E agora o senhor é quem está em minha casa... Vai se arranchar comigo. Se
abanque, mano velho, se abanque!... Arranja um café aqui p’ra o parente,
Flosino!
[...]
Nhô Augusto
mordia o pão de broa, e espiava, inocente, para ver se já vinha o café.
— Tem chá de
congonha, requentado, mano velho...
— Aceito
também, amigo. Estou com fome de tropeiro... Mas, qu’é de o Juruminho?
— Ah, o senhor guardou o nome, e, a pois,
gostou dele, do menino... Pois foi logo com o pobre do Juruminho, que era um
dos mais melhores que eu tinha...
— Não diga...
O rosto de seu
Joãozinho Bem-Bem foi ficando sombrio.
— O matador —
foi à traição, — caiu no mundo, campou no pé... Mas a família vai pagar tudo,
direito!
Seu Joãozinho
Bem-Bem, sentado em cima da beirada da mesa, brincava com os três bentinhos do
pescoço, e batia, muito ligeiro, os calcanhares, um no outro. Nhô Augusto,
parando de limpar os dentes com o dedo, lastimou:
— Coitado do
Juruminho, tão destorcido e de tão bom parecer... Deixa rezar por alma dele...
Seu Joãozinho
Bem-Bem desceu da mesa e caminhou pela sala, calado. Nhô Augusto, cabeça baixa,
sempre sentado num selim velho, dava o ar de quem estivesse com a mente muito
longe.
— Escuta, mano
velho...
Seu Joãozinho
Bem-Bem parou em frente de Nhô Augusto, e continuou:
— ....eu
gostei da sua pessoa, em-desde a primeira hora, quando o senhor caminhou para
mim, na rua daquele lugarejo... Já lhe disse, da outra vez, na sua casa: o
senhor não me contou coisa nenhuma de sua vida, mas eu sei que já deve de ter
sido brigador de ofício. Olha: eu, até de longe, com os olhos fechados, o
senhor não me engana: juro como não há outro homem p’ra ser mais sem medo e
disposto para tudo. E só o senhor mesmo querer...
— Sou um pobre
pecador, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Que-o-quê!
Essa mania de rezar é que está lhe perdendo... O senhor não é padre nem frade,
p’ra isso; é algum?... Cantoria de igreja, dando em cabeça fraca, desgoverna
qual quer valente... Bobajada!
— Bate na
boca, seu Joãozinho Bem-Bem meu amigo, que Deus pode castigar!
— Não se
ofenda, mano velho, deixe eu dizer: eu havia de gostar, se o senhor quisesse
vir comigo, para o norte... Já lhe falei e torno a falar: é convite como nunca
fiz a outro, e o senhor não vai se arrepender! Olha: as armas do Juruminho
estão aí, querendo dono novo...
— Deixa eu
ver...
Nhô Augusto
bateu a mão na winchester, do jeito com que um gato poria a pata num
passarinho. Alisou coronha e cano. E os seus dedos tremiam, porque essa estava
sendo a maior das suas tentações.
Fazer parte do
bando de seu Joãozinho Bem-Bem! Mas os lábios se moviam — talvez ele estivesse
proferindo entre dentes o creio em deus padre — e, por fim, negou com a cabeça,
muitas vezes:
— Não posso,
meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem!... Depois de tantos anos... Fico muito
agradecido, mas não posso, não me fale nisso mais...
E ria para o chefe dos guerreiros, e também por
dentro se ria, e era o riso do capiau ao passar a perna em alguém, no fazer
qualquer negócio.
— Está
direito, lhe obrigar não posso... Mas, pena é...
Nisso, fizeram um estardalhaço, à entrada.
— Quem é?
— É o tal
velho caduco, chefe.
— Deixa ele
entrar. Vem cá, velho.
O velhote
chorava e tremia, e se desacertou, frente às pessoas. Afinal, conseguiu
ajoelhar-se aos pés de seu Joãozinho Bem-Bem.
— Ai, meu
senhor que manda em todos... Ai, seu Joãozinho Bem-Bem, tem pena!... Tem pena
do meu povinho miúdo... Não corta o coração de um pobre pai...
— Levanta,
velho...
— O senhor é
poderoso, é dono do choro dos outros... Mas a Virgem Santíssima lhe dará o pago
por não pisar em formiguinha do chão... Tem piedade de nós todos, seu Joãozinho
Bem-Bem!
— Levanta,
velho! Quem é que teve piedade do Juruminho, baleado por detrás?
— Ai, seu
Joãozinho Bem-Bem, então lhe peço, pelo amor da senhora sua mãe, que o teve e
lhe deu de mamar, eu lhe peço que dê ordem de matarem só este velho, que não
presta para mais nada... Mas que não mande judiar com os pobrezinhos dos meus
filhos e minhas filhas, que estão lá em casa sofrendo, adoecendo de medo, e que
não têm culpa nenhuma do que fez o irmão... Pelo sangue de Jesus Cristo e pelas
lágrimas da Virgem Maria!...
E o velho
tapou a cara com as mãos, sempre ajoelhado, curvado, soluçando e arquejando.
Seu Joãozinho
Bem-Bem pigarreou, e falou:
— Lhe atender
não posso, e com o senhor não quero nada, velho. É a regra... Senão, até quem é
mais que havia de querer obedecer a um homem que não vinga gente sua, morta de
traição?... É a regra. Posso até livrar de sebaça, às vezes, mas não
posso perdoar isto não... Um dos dois rapazinhos seus filhos têm de morrer, de
tiro ou à faca, e o senhor pode é escolher qual deles é que deve de pagar pelo
crime do irmão. E as moças... Para mim não quero nenhuma, que mulher não me
enfraquece: as mocinhas são para os meus homens...
— Perdão, para
nós todos, seu Joãozinho Bem-Bem...
Pelo corpo de
Cristo na Sexta-feira da Paixão!
— Cala a boca,
velho. Vamos logo cumprir a nossa obrigação...
Mas, aí, o
velho, sem se levantar, inteiriçou-se, distendeu o busto para cima, como uma
caninana enfunada, e pareceu que ia chegar com a cara até em frente à de seu
Joãozinho Bem-Bem. Hirto, cordoveias retesas, mastigando os dentes e cuspindo
baba, urrou:
— Pois então,
satanás, eu chamo a força de Deus p’ra ajudar a minha fraqueza no ferro da tua
força maldita!
Houve um
silêncio. E, aí:
— Não faz
isso, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem, que o desgraçado do velho está pedindo
em nome de Nosso Senhor e da Virgem Maria! E o que vocês estão querendo fazer
em casa dele é coisa que nem Deus não manda e nem o diabo não faz!
Nhô Augusto
tinha falado; e a sua mão esquerda acariciava a lâmina da lapiana, enquanto a
direita pousava, despreocupada, no pescoço da carabina. Dera tom calmo às
palavras, mas puxava forte respiração soprosa, que quase o levantava do selim e
o punha no assento outra vez. Os olhos cresciam, todo ele crescia, como um
touro que acha os vaqueiros excessivamente abundantes e cisma de ficar sozinho
no meio do curral.
— Você está caçoando
com a gente, mano velho?
— Estou não.
Estou pedindo como amigo, mas a conversa é no sério, meu amigo, meu parente,
seu Joãozinho Bem-Bem.
— Pois pedido
nenhum desse atrevimento eu até hoje nunca que ouvi nem atendi!...
O velho
engatinhou, ligeiro, para se encostar na parede.
No calor da
sala, uma mosca esvoaçou.
— Pois
então... — e Nhô Augusto riu, como quem vai contar uma grande anedota — ...Pois
então, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem, é fácil... Mas tem que passar primeiro
por riba de eu defunto...
Joãozinho Bem-Bem se sentia preso a Nhô
Augusto por uma simpatia poderosa, e ele nesse ponto era bem-assistido, sabendo
prever a viragem dos climas e conhecendo por instinto as grandes coisas. Mas
Teófilo Sussuarana era bronco excessivamente bronco, e caminhou para cima de
Nhô Augusto. Na sua voz:
— Epa!
Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos da mãe, que chegou
minha vez!...
E a casa
matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com
os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um
demônio preso e pulando como dez demônios soltos.
— Ô gostosura
de fim-de-mundo!...
E garrou a
gritar as palavras feias todas e os nomes imorais que aprendera em sua farta existência,
e que havia muitos anos não proferia. E atroava, também, a voz de seu Joãozinho
Bem-Bem:
— Sai,
Canguçu! Foge, daí, Epifânio! Deixa nós dois brigar sozinhos!
[...]
— Se entregue,
mano velho, que eu não quero lhe matar...
— Joga a faca fora, dá viva a Deus, e
corre, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Mano velho!
Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao
cotovelo!...
— Se arrepende dos
pecados, que senão vai sem contrição, e vai direitinho p’ra o inferno, meu
parente seu Joãozinho Bem-Bem!...
— Ui, estou morto...
A lâmina de Nhô
Augusto talhara de baixo para cima, do púbis à boca do estômago, e um mundo de
cobras sangrentas saltou para o ar livre, enquanto seu Joãozinho Bem-Bem caía
ajoelhado, recolhendo os seus recheios nas mãos.
Aí,
o povo quis amparar Nhô Augusto, que punha sangue por todas as partes, até do
nariz e da boca, e que devia de estar pesando demais, de tanto chumbo e bala.
Mas tinha fogo nos olhos de gato-do-mato, e o busto, especado, não vergava para
o chão.
—
Espera aí, minha gente, ajudem o meu parente ali, que vai morrer mais
primeiro... Depois, então, eu posso me deitar.
—
Estou no quase, mano velho... Morro, mas morro na faca do homem mais maneiro de
junta e de mais coragem que eu já conheci!... Eu sempre lhe disse quem era bom
mesmo, mano velho... E só assim que gente como eu tem licença de morrer...
Quero acabar sendo amigos...
—
Feito, meu parente, seu Joãozinho Bem-Bem. Mas, agora, se arrepende dos
pecados, e morre logo como um cristão, que é para a gente poder ir juntos...
[...]
Alguém
gritou: — “Eh, seu Joãozinho Bem-Bem já bateu com o rabo na cerca! Não tem
mais!”... — E então Nhô Augusto se bambeou nas pernas, e deixou que o
carregassem.
[...]
E
o povo, enquanto isso, dizia: “Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por
mór de salvar as famílias da gente!...“ E a turba começou a querer desfeitear o
cadáver de seu Joãozinho Bem-Bem [...]
[...]
Nhô Augusto
falou, enérgico:
—
Para com essa matinada, cambada de gente herege!... E depois enterrem bem
direitinho o corpo, com muito respeito e em chão sagrado, que esse aí é o meu
parente seu Joãozinho Bem-Bem!
E o velho
choroso exclamava:
—
Traz meus filhos, para agradecerem a ele, para beijarem os pés dele!... Não
deixem este santo morrer assim... P’ra que foi que foram inventar arma de fogo,
meu Deus?! Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou:
— Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu
falar no nome de Nhô Augusto Estêves, das Pindaíbas!
—
Virgem Santa! Eu logo vi que sé podia ser você, meu primo Nhô Augusto... Era o
João Lomba, conhecido velho e meio parente. Nhô Augusto riu:
— E hein, hein
João?!
— P’ra ver...
Então,
Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios
lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sério contentamento.
Daí, mais,
olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrado, sumido:
—
Põe a benção na minha filha.. seja lá
onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo em
ordem!
Depois, morreu.
(João
Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
p.379-386.)
1. Ao reencontrar Nhô Augusto, o jagunço
Joãozinho Bem-Bem o convida, pela segunda vez, para integrar o bando e lhe
oferece as armas do finado Juruminho.
a.
Nesse
contexto, que conflito o protagonista vivencia? Justifique sua resposta com
trechos do texto.
b.
Tendo
em vista as fases de vida de Nhô Augusto, levante hipóteses: Por que ele recusa
o convite de Joãozinho Bem-Bem?
2. No universo sertanejo do conto em
estudo, não há lugar para as leis e a justiça formais; nesse espaço, os
jagunços são regidos por uma moral e por determinados códigos de conduta
próprios.
a. Na morte de Juruminho, que código de
conduta foi desobedecido pelo homem que o assassinou? Diante de tal
desobediência, qual é a “regra” a ser cumprida?
b. De acordo com Joãozinho Bem-Bem, qual
é a importância de se cumprir essa regra?
c. Tendo em vista esse contexto moral e
as atitudes de Joãozinho Bem-Bem, responda: Como se caracteriza essa
personagem? Justifique sua resposta com elementos do texto.
3. No conto, Nhô Augusto tem admiração e
respeito por Joãozinho Bem-Bem.
a.
Por
que, no conto, o protagonista se volta contra esse chefe dos jagunços?
b.
Nhô
Augusto tinha sido um homem violento que, depois, se tornou penitente. Como
essas duas faces antagônicas e conflitantes da personagem se manifestam no
texto em estudo?
c.
Na
luta contra os jagunços, Nhô Augusto exclama: “ô gostosura de fim de mundo!...”
Com base na trajetória da vida dessa personagem, explique o sentido dessa
afirmação no contexto em que ela está inserida.
4. Em suas obras, Guimarães Rosa insere
determinados elementos simbólicos que remetem à mística e à religiosidade. Como
esse traço de sua obra se apresenta no texto em estudo? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
5. A obra de Guimarães Rosa apresenta
uma visão global da existência, fundindo, em uma única realidade, elementos
como o divino e o demoníaco, o bem e o mal. Conclua: Que elemento presente no
texto em estudo evidencia esse traço da obra roseana?
6. Um dos traços inovadores da prosa de
Guimarães Rosa foi o tratamento dado à linguagem. Identifique no texto em
estudo:
a. Traços de oralidade na fala do
narrador e das personagens;
b. Com que finalidade é feita a junção
de várias palavras na expressão “Nomopadrofilhospritossantamêin”;
PARTE II – REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA
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informações que ele deve conter, segundo parâmetros de pesquisadores.